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Channa Sanches Vasco tinha 25 anos quando assumiu o posto de executiva responsável pela comunicação e pelo marketing de uma holding, em Belo Horizonte. Amava o que fazia, sentia-se feliz e realizada e, por isso, não via problemas em trabalhar em média 14 horas por dia, de segunda a sábado, nem o fato de o banheiro de sua sala ter chuveiro --para as noites em que passava na empresa e dormia no sofá.
"Tinha muitas responsabilidades, colaboradores e administrava um orçamento significativo. Gostava de entregar projetos antes do prazo, de fazer tudo o que precisava ser feito. Eu não sabia falar não", lembra ela, hoje com 39 anos. Contudo, Channa não olhava para a própria saúde nem tinha tempo para relacionamentos ou cuidados pessoais. Foram necessários três anos para que ela trocasse a rotina intensa por outro estilo de vida. E o início desse processo só veio à tona quando ela foi parar no hospital.
"Numa reunião de auditoria, estava com tanta enxaqueca que comecei a enjoar. Passei mal no corredor. À noite, precisei ir ao pronto-socorro, porque remédios não faziam efeito. Foi quando o médico me alertou que eu estava com esgotamento, a Síndrome de Burnout. Percebi naquele dia que precisava fazer algo diferente", relata.
A verdade é que a executiva estava ignorando as dores no corpo, a oscilação de humor, o estado de euforia alterado e até irritação que vinham ocorrendo nas semanas anteriores. Finalmente tirou uma semana de férias e, na volta, fez o primeiro dos três pedidos de demissão --só o último foi aceito, anos depois, quando ela estava 100% decidida a mudar de vida.
"Continuo trabalhando muito, amo o que faço, mas também tenho minhas pausas e cuido de mim. Hoje, posso almoçar todos os dias em casa, ficar com minha filhinha e com meu marido e ter meus pais por perto", diz ela, que investiu em autoconhecimento e desenvolvimento humano e, atualmente, tem uma empresa na qual atua como especialista em carreira e sucesso profissional.
Assim como Channa, muitas pessoas não notam a iminência da Síndrome de Burnout --que foi incluída pela OMS (Organização Mundial de Saúde) na lista de doenças -- porque não se sentem cansadas fisicamente.
Mas há outros sinalizadores que dão indícios do problema, como mostram Amanda Santana, psicóloga da RHMED|RHVIDA, especialista em saúde ocupacional; Henrique Bottura, psiquiatra da Clínica Psiquiatria Paulista e do Hospital das Clínicas de São Paulo; Luciana Tegon, headhunter e master coach; e Moisés Luz, psicólogo clínico e arte-terapeuta.
Fique atento se tiver:
É óbvio que ninguém quer chegar ao ponto de esgotamento profissional. A Síndrome de Burnout pode ficar mais distante se a pessoa desenvolver certas habilidades, como sugere Fagner Borges, autor do livro "A Jornada da Liberdade" e criador do Movimento Freesider.
Como ele explica, há quatro competências que são pilares para sair da rotina sufocante: pessoal (capacidade de dominar a mente, desbloqueando crenças limitantes e estimulando a autoconfiança), interpessoal (habilidade de lidar com a sociedade, sendo mais persuasivo e influente), financeira (saber ganhar dinheiro e gerir finanças) e produtiva (aptidão para gerar resultados com pouco esforço).
Algumas mudanças de hábitos podem levar a tais habilidades:
De acordo com Fagner, adotando tais práticas, é possível perceber uma maior produtividade, com mais tempo livre já nos primeiros dias --o que não deve significar novas tarefas na agenda, é claro! Agindo assim, o lado profissional tende a ser menos desgastante. "O mais importante é a pessoa conseguir enxergar e reconhecer que a relação com o trabalho está em um modelo tóxico e, assim, começar a buscar formas de mudar", comenta.
Fonte: Uol - Universa